Colunista - Isabel Cristina Pereira Leite

Violência no âmbito familiar e seus impactos no desenvolvimento de crianças e adolescentes: um alerta à sociedade

Violência no âmbito familiar e seus impactos no desenvolvimento de crianças e adolescentes: um alerta à sociedade
  • Isabel Cristina Pereira Leite CRP11/22313

A violência no ambiente familiar, muitas vezes velada pelas paredes do lar, tem causado efeitos devastadores no desenvolvimento de crianças e adolescentes em todo o país. Seja ela física, psicológica, sexual ou por negligência, seus impactos extrapolam o momento da agressão e acompanham a vítima ao longo da vida, comprometendo sua saúde mental, emocional e o pleno desenvolvimento cognitivo.

Pesquisas nas áreas de psicologia e neurociência demonstram que a exposição contínua à violência familiar afeta diretamente o funcionamento do cérebro em desenvolvimento. Crianças que crescem em ambientes inseguros apresentam níveis elevados de estresse tóxico, o que interfere na formação de conexões neurais essenciais para o aprendizado, a memória, a autorregulação emocional e a socialização. Na prática, isso se reflete em dificuldades escolares, baixa autoestima, ansiedade, depressão e comportamentos agressivos ou retraídos.

Adolescentes expostos à violência doméstica também demonstram maior propensão ao abandono escolar, ao uso de substâncias e ao envolvimento em situações de risco. Esses jovens, muitas vezes invisíveis aos olhos da sociedade, carregam as cicatrizes de uma violência que não escolheram viver e que lhes rouba oportunidades e direitos fundamentais.

Nesse contexto, é fundamental destacar o Artigo 18 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que dispõe:

“É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.”

Este artigo consagra o dever coletivo — do Estado, da família e da sociedade — de proteger crianças e adolescentes contra toda forma de violência. A omissão diante de situações de agressão perpetua o ciclo da violência e nega a essas vítimas o direito a uma infância segura e saudável.

Portanto, é imprescindível que qualquer pessoa que tenha conhecimento ou suspeita de maus-tratos denuncie o caso imediatamente. O Disque 100 é um canal nacional, gratuito e sigiloso para denúncias de violações de direitos humanos, incluindo a violência contra crianças e adolescentes.

Além da denúncia, o enfrentamento à violência familiar requer ação conjunta e estratégias integradas de todos os atores sociais:

Estratégias de enfrentamento:

-          Escolas: Devem promover formações continuadas sobre violência doméstica para educadores, além de estabelecer protocolos claros de identificação e encaminhamento de casos suspeitos. Projetos de acolhimento psicológico e rodas de conversa com os alunos também são fundamentais.

-          Pais e responsáveis: Precisam buscar apoio ao enfrentarem dificuldades emocionais ou comportamentais. Programas de orientação parental, grupos de apoio e o acesso a serviços de saúde mental são aliados na construção de vínculos saudáveis.

-          Familiares e vizinhos: A cultura do silêncio precisa ser quebrada. O cuidado com a criança do outro é responsabilidade de todos. Estar atento a mudanças bruscas de comportamento e a sinais físicos é o primeiro passo para agir.

Proteger crianças e adolescentes da violência é garantir a construção de uma sociedade mais justa, empática e com mais oportunidades. O futuro do país depende de como cuidamos de suas infâncias no presente.

Não se cale. Denuncie!

 

Imagem de capa gerada por IA

Isabel Cristina Pereira Leite CRP11/22313

Isabel Cristina Pereira Leite CRP11/22313

Bacharelada em psicologia pela Centro Universitário Dr. Leão Sampaio (Unileão) em 2023. Atuou como conselheira no Conselho municipal da pessoa com deficiência (COMDEF) e conselheira fiscal na Renais do Cariri