Rock e Festas Juninas: Quando a Guitarra Encontra a Sanfona

Mês de junho: período festivo em que a celebração celta de Beltane traz, ao país tropical, toda a beleza e fertilidade dos rituais das fogueiras.
Fato é que as festas juninas são um dos eventos mais tradicionais e queridos do Brasil. Eu amo esse período — e sou roqueiro, tenho metal no sangue e gosto de forró. Seria uma dicotomia paradoxal ser devoto do rock e, ao mesmo tempo, curtir um bom forró?
Adoro as fogueiras, as quadrilhas, as bandeirinhas coloridas, as comidas típicas e os trajes caipiras. Elas celebram a influência pagã na cultura popular, com muita alegria e ritmo. E me faço uma singela indagação: poderia Jimi Hendrix usar sua guitarra junto à sanfona de Luiz Gonzaga? Quem seria o zabumbeiro? John Bonham?
Para muitos, o rock e o baião podem parecer mundos antagônicos. Todavia, existem similaridades. Historicamente, o primeiro nasceu nos Estados Unidos, impulsionado por guitarras elétricas e por uma juventude contestadora, fornecendo voz a uma geração. O segundo brotou do coração do sertão nordestino, embalado por zabumbas, triângulos e sanfonas, dando voz à vida do povo resistente do interior. Contudo, olhando sob outra perspectiva, esses dois ritmos não teriam algo em comum? Ou o preconceito não permite enxergar traços de unicidade entre eles?
É preciso perceber que tanto o rock quanto o baião surgiram como formas de resistência. O rock foi a trilha sonora de uma juventude inconformada nos anos 1950 e 1960. Já o baião, imortalizado por nomes como Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, elevou as raízes nordestinas ao cenário nacional, num ato de orgulho cultural. Rock e baião: dois ritmos, uma mesma rebeldia.
O forró é mais velho que o rock. Surgiu no Ceará, não em Pernambuco, com a dupla Xerém e Tapuia, do sertão de Baturité, que gravou o primeiro disco, em 78 RPM, em 1937, com as músicas “Quadria no Arraiá” e “Forró na Roça”.
Ambos são ritmos que esbanjam atitude. O baião, com sua batida forte e cadenciada, foi pioneiro ao unir tradição e modernidade no Brasil. O rock, com seus riffs marcantes, sempre foi sinônimo de ousadia. E, quando essas duas realidades se encontram, nasce algo poderoso: um som que respeita a cultura popular, sem medo de experimentar.
E quem disse que o rock também não é cultura popular?
Me vem à baila artistas como Alceu Valença, Zé Ramalho, Raul Seixas, Raimundos e o movimento Manguebeat, que souberam fundir esses dois ritmos com maestria. Sem falar no trabalho de bandas como Angra e Sepultura, que marcam seus álbuns com elementos brasileiros. O resultado é impressionante: um som que carrega a alma do baião com a energia do rock, criando uma ponte entre o chão rachado do Nordeste e os palcos elétricos do mundo.
Mais do que uma fusão musical, o encontro entre rock e baião é uma declaração de identidade: a música brasileira dialoga com qualquer estilo sem perder sua essência. A cultura brasileira é rica e aberta a reinvenções.
No fundo, tanto o baião quanto o rock são ritmos que falam diretamente ao coração. Com muita propriedade, verdade e coragem, são ritmos que não deixam ninguém parado. Afinal, tanto o rock quanto o forró falam de sentimentos, juventude, rebeldia e celebração da vida. O importante é dançar, sorrir, celebrar e manter viva a alegria da festa — seja com sanfona, seja com guitarra.
Que a guitarra elétrica se encontre com a sanfona e a zabumba. Que a energia crua das guitarras se una à dança, ao chapéu de palha e à vibração com muita alegria.
Observação: Imagens geradas por Inteligência Artificial