Colunista - Rinalme Emiliano

O rock cria memórias?

O rock cria memórias?
  • Rinalme Emiliano

Você se lembra da sua “experiência transcendental” com o rock? Da recordação daqueles acordes, do vocal poderoso que fez o coração vibrar com a intensidade da música? Muito mais que um gênero musical, o rock é uma força que promove experiências e marca a alma com memórias inesquecíveis. Assim seguem os riffs eletrizantes das guitarras e as batidas pulsantes da bateria: o rock transcende o som para se tornar um marco em nossas vidas.

Em minha existência como comedor de baião de dois, com a pequizada bukowskiana/sartreana, já curtia muitas bandas como Capital Inicial, Legião Urbana, U2, Stone Roses, entre outras. Porém, ocorreram situações em que a experiência sensorial dos ouvidos me transportou para um universo cósmico, intergaláctico, orgásmico.

Houve bandas que, simplesmente, despertaram em mim uma fugaz memória que se tornou eterna. Por exemplo: criança que era, atendendo a um pedido da minha mãe, fui deixar algumas roupas na costureira. De repente, escuto "Another Brick in the Wall", do Pink Floyd, e o som na casa estava tão alto que as batidas da bateria faziam meu coração pulsar.

Outra vez, ao sair da escola, fui com amigos à casa de um brother chamado Dodô. Ali, vi a discografia completa do Led Zeppelin em vinil e, pela primeira vez, escutei a banda. Logo de cara, a pancada de "Black Dog" me entorpeceu os sentidos. Que som! E assim foi acontecendo com bandas como Black Sabbath, AC/DC, Iron Maiden… Experiências surreais para um adolescente apaixonado pelo frenesi do rock.

É interessante observar que o rock cria memórias sensoriais e lembranças que se entrelaçam com as conexões formadas com amigos. As viagens sonoras, muitas vezes etílicas e embaladas por boas prosas, proporcionam sentimentos que estão além da razão.

O rock conecta pessoas e causas. Ele motiva, constrói histórias e transforma experiências em memórias duradouras. Essa conexão é evidente nos encontros, nas despedidas, nas paixões e nos protestos. Não importa a época ou o estilo — do punk ao progressivo, do indie ao metal extremo — o rock continua sendo uma força viva, que toca a alma e deixa suas marcas.

Neste axioma, em consonância com a atemporalidade do rock e com as remembranças pretéritas, faço a indagação: o cenário atual do rock cria memórias? A geração contemporânea experimenta a construção afetiva de memórias com a música, transcendendo os acordes? Ou busca essa experiência no passado?

Existe uma magia que ultrapassa gerações. Essa magia está presente nos eventos, nos encontros nas praças, nas casas, nos capítulos coletivos que marcam épocas. As letras — rebeldes ou poéticas — ecoam na mente e trazem sentimentos de liberdade, protesto ou amor, criando laços entre estranhos que, por uma noite ou um momento, compartilham emoções e a mesma paixão.

O rock é visceral, une as pessoas, tem o poder de congelar o tempo, transformando instantes fugazes em memórias eternas. Shows de rock não são apenas eventos musicais, mas momentos em que a coletividade é marcada. Quando uma música começa, o coração acelera e a memória se acende. E é aí que o rock vive: onde há emoção, há lembrança. E onde há lembrança, há vida.

Há quem guarde na memória o primeiro show, a primeira fita gravada, o primeiro vinil ou CD, aquele solo que parecia dizer tudo o que as palavras não conseguiam. Isso é magia, é essência, rebeldia, autenticidade e energia crua pulsante.

Shows lotados, fãs apaixonados e a constante redescoberta de clássicos por novas gerações provam que o gênero ultrapassa o poder das mídias para sobreviver. Atualmente, pode até não dominar as paradas musicais, mas vive nos porões, nos streamings, nos CDs, nos vinis e, principalmente, nos corações dos que sentem sua força impactante.

O rock não é só música; é uma trilha sonora para a vida. Ele cria memórias que nos definem, nos conectam e nos lembram de quem fomos e ainda somos. O rock pulsa e nunca se cala ao criar e reescrever memórias.

 

Imagem de capa gerada por IA

Rinalme Emiliano

Rinalme Emiliano

Colunista de Cultura & Música